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Extrato de texto publicado em 24/10/2011:
"Vejamos a rodada #31, na qual os deuses do
futebol fizeram uma farta distribuição de burrice para a posição que chamamos
de “lateral-direita”. No Beira-Rio, o Corinthians equilibrava o jogo contra o
Inter quando… Alessandro resolveu arriscar um desarme por trás em Andrezinho no
ataque. O carrinho soou carniceiro – e Alessandro foi pra rua no primeiro
tempo. Na Ressacada, o Botafogo empatara e estava prestes a virar quando, aos
36 do segundo tempo, Lucas entrou de sola na região dos filhos futuros de
Gian. Vermelho direto – e gol do Avaí logo depois. O Fluminense mal
começara a atacar o Galo quando Mariano fez o pênalti mais jumento da rodada. O
América-MG derrotava o Grêmio quando… Marcos Rocha fez uma falta tola e recebeu
o segundo amarelo. Quatro laterais direitos fazendo bobagem decisiva numa mesma
rodada – qual a chance disso, caros matemáticos?
O que levou Alessandro a saltar como um ninja sem freio? O
que transformou Lucas em karate kid? Quem foi o telepata mineiro que invadiu o
cérebro de Mariano? Vez por outra, torcedores buscam a falta de vontade dos
jogadores como explicação para derrotas. Aqui temos três casos em que o excesso
de vontade foi determinante. A vontade de ganhar era tamanha que
nublou a razão – e acabou tirando do time potenciais pontos preciosos.
A jumência súbita é capaz de mudar uma história, um jogo, um
campeonato. Por isso concentração e experiência fazem especial diferença
na reta final. E que time tem isso de sobra? Que time, nesse campeonato repleto
de irregularidade, não enfrentou ainda uma má fase? Que time, mesmo
falhando aqui e ali, não deu aquela derrapada básica diante da chance clara? A
resposta está no alto da tabela, claro: mesmo perdendo seu técnico para um AVE
gravíssimo, o Vasco não piscou. O gol do Corinthians no fim pode
fazer diferença (seja para o título, seja para Libertadores no caso do Inter) –
mas, para ser campeão, o time de Tite vai ter que ligar o secador no máximo
contra a constante cruz-maltina.
O Vasco segue no prumo porque, por mais que não tenha um
supercraque – um Neymar ou um Ronaldinho, tem uma coleção de jogadores acima da
média. Sai Juninho, volta Felipe. Alecsandro está mal? Élton ressurge. Márcio
Careca anda péssimo? Pluga ali o Jumar. Tudo tem dado certo. É um time que
mescla experiência, rodagem, qualidade com juventude. E, mesmo com Ricardo
Gomes no estaleiro, o time manteve seu esquema de marcação agressiva. Todos os
jogadores marcam – primeiro tentando dar o bote no campo ofensivo. Depois, se
não for possível, recuando até o meio e criando uma estrutura compacta. Não há
– como, por exemplo, no Botafogo – um ocasional espaço entre os quatro da
frente e os seis de trás. O Corinthians do início do campeonato jogava com
disciplina parecida.
E, claro, quando os deuses do futebol estão a favor, a bola
bate na canela de Diego Souza e sobra para a canhota de Felipe. A zaga rebate…
e a bola cai diante de Diego Souza, que dá um biquinho preciso. Mas vejam a
diferença: Diego Souza… Felipe – jogadores acima da média. Se a bola cair
diante de Herrera na linha do gol – ele é capaz de enviá-la para a galáxia de
Andrômeda. Se a bola sorrir diante de Jael… uma missão lunar entra em perigo. O
Vasco tem Juninho, Felipe, Éder Luís, Diego Souza e Dedé – vários jogadores
acima de nota oito – e Rômulo, Fágner e Allan como ótimos coadjuvantes.
Verdade que, como diria Renato Russo… ainda é cedo, cedo,
cedo, cedo uh. O Vasco ainda tem três clássicos cariocas (o time não ganhou
nenhum deles no primeiro turno) e jogos escamados contra São Paulo, Santos e
Palmeiras (esses dois últimos, agora, se enunciam mais fáceis). A tabela do
Corinthians, teoricamente, é mais amena.Mas… pode se tornar mais dura – pois o
Timão vai enfrentar times na rota do desespero. É precoce inclusive dizer
que a corrida ficou entre dois cavalos. No ano passado, depois da rodada #31,
Flu e Cruzeiro tinham 54 e o Corinthians tinha 53 – e essa corrida a três durou
até a última rodada. Em 2009 – depois da rodada #32 – ou seja, com apenas seis
jogos para o fim, o Flamengo estava em sexto – a seis pontos do líder Palmeiras
– e acabou campeão.
Mas hoje, sem dúvida, o Vasco está na pole position.
E este escriba, que considerou que o time cairia fora da briga pelo título a
partir da rodada#28, já carbonizou 3/4 de língua. Faltam sete jogos – e a
bola-de-cristal aqui virou aquário."
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