terça-feira, 19 de outubro de 2010

Terrorismo com pesquisas de intenção de voto

19/10/2010

às 7:21

O TERRORISMO PESQUISEIRO ESTÁ DE VOLTA. E COM OS MESMOS ATORES NO MESMO PAPEL

A delinqüência está de volta. Começa hoje a safra de pesquisas eleitorais da segunda semana, puxada por este incrível Vox Populi, do mais incrível ainda Marcos Coimbra. Antes que o, digamos, “instituto” divulgasse seus resultados, a suposta diferença de 12 pontos entre a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra já estava em todas as bocas. Coimbra é do tipo que não esconde, vocês sabem. Eu continuo sem saber quem vai ganhar a eleição, mas Marcos Coimbra, que trabalha para o PT e é colunista de uma revista petista, diz saber.

Na quarta-feira, dia 29, três dias antes da eleição do primeiro turno, o Vox Populi dizia que Dilma venceria a disputa no primeiro turno com 12 pontos de vantagem sobre a soma dos demais concorrentes. Sim, leitor, isto mesmo! 12 pontos. E o rapaz ainda concedeu uma entrevista a um blog naquele dia:

Pergunta - Marina Silva está crescendo sobre votos de Dilma Rousseff?
Coimbra -
Não dá para dizer. Dilma cresceu tanto após o início do horário gratuito da propaganda eleitoral que roubou votos dos outros dois. Agora, esses votos estão, ao que parece, voltando para eles.

Quantos votos, de fato, Dilma precisa perder para que haja segundo turno?
Nos dados de nosso tracking (corroborados por vários outros que temos de pesquisas desenvolvidas em paralelo), a vantagem dela para a soma dos outros estava em 12 pontos percentuais ontem. Se 6 pontos passassem dela para os outros, a eleição empataria e o prognóstico de vitória no primeiro turno seria impossível. Como cada ponto equivale a mais ou menos 1,35 milhão de eleitores, isso seria igual a 8 milhões de eleitores (sem raciocinar com abstenções).
(…)
Qual o quadro que o senhor acha mais provável?
Vitória de Dilma no primeiro turno.

Coimbra é o cara que organizava aquele tracking diário para o Ig, onde o tucano José Serra chegou a aparecer com 22% dos votos. O resultado das urnas mostra a credibilidade do seu levantamento. Há uma semana, ele publicou uma simulação de segundo turno, e a diferença entre Dilma e Serra era de 8 pontos. Agora, seria de 12 nos votos totais. É simples: bastou mexer nos números do tucano dentro da margem de erro (há uma semana, teria 40%, agora 39%) e somar três pontinhos pra ela (teria ido de 49% para 51%). Atenção: segundo Coimbra, os brancos e nulos continuam em 6%, como na semana passada, e os indecisos passaram de 6% para 4%. Huuummm… Serra não só não teria ganhado nenhum indeciso (foram todos para Dilma) como ainda perdeu eleitores para a petista, entenderam? Tudo num “passe de Marcos”…

Efeito deletério
“Ah, mas todo mundo sabe que essa gente…” Não é bem assim. Pesquisas, por menos credibilidade que tenham, sempre ajudam a criar o “ambiente”. Institutos fazem lá os seus ajustes, entendem? Se considerarmos, então, o modo como as coisas estão sendo feitas no Brasil, né? Arredonda-se aqui, arredonda-se ali. Um vem com 12; o seguinte, se tiver de arredondar para chegar a uma diferença de 7 ou de 8, escolhe a diferença maior, que o aproxima mais do colega; o que vem depois, ainda que seja o honesto da turma, sente a pressão e também dá o seu “totozinho”. No fim das contas, um acaba usando o outro como o limite da sua margem de erro e, magicamente, todos acertam, ainda que todos errem.

Daqui a pouco, o jornalismo online começa a “repercutir”, como eles dizem, os números do Vox Populi. Quem, a três dias da eleição, afirmava uma diferença a favor de Dilma de 12 pontos sobre a soma dos demais candidatos precisa é ser investigado em vez de ser levado a sério.

Mas Marcos Coimbra está de volta. Afinal, é essa a sua profissão.

Por Reinaldo Azevedo

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