Num mundo em que está cada vez mais difícil ter privacidade, ser invisível passou a ser chique.
Há alguns anos, quando as mídias sociais ainda não estavam tão presentes no cotidiano das pessoas, era evidente a necessidade de alguns em ser "pop", populares mesmo. Principalmente entre os jovens, essa ânsia de ser querido, "curtido", desejado, copiado e, principalmente observado era muito evidente. Havia o "Rei" e a "Rainha do Baile"... o garoto mais desejado, apesar de o mais galinha... a menina mais popular, que além de ser cheia de amigas, todas queriam ser como ela.
E, ao contrário, lá estavam também os invisíveis - aqueles dos quais ninguém sabia, e o principal: ninguém tinha o interesse em saber. Eles eram insignificantes, desinteressantes. Existe até um livro muito bom, que tem o nome "As Vantagens de Ser Invisível", que conta a história de Charlie, um menino que era considerado o "invisível" da escola, mas por alguns motivos, saiu da "invisibilidade".
Claro, não só entre os mais jovens isso acontecia. Prova disso é a existência do prêmio "Miss Simpatia". O que ela é, senão a mais popular das candidatas a miss? Ou o título de "namoradinha do Brasil", dado à Regina Duarte, por ser não só bonita, mas também simpática?
Não estou dizendo que esse tipo de situação não existe mais, mas sim, que as relações mudaram de perspectiva.
Com o surgimento das redes sociais, toda e qualquer pessoa passou a ser visível. A isso eu atribuo "o vício". Sim, muita gente está completamente viciada não só em saber da vida alheia (o que já era um vício "normal" da vida sem internet, alimentado por revistas de famosos, e fofoca de bairro), mas viciada também em se expor.
Lembro que quando surgiu o Orkut, muita gente, mas muita gente MESMO, tinha receio de postar fotos, porque temia sequestros, ameaças, assaltos. Se evitava colocar dados pessoais, fotos de criança, rotina. Hoje em dia, esse medo completamente desapareceu para alguns, e manchetes como
"Jovem morre estrangulada após buscar namorado no Facebook" virou lugar comum.
Vejo parentes e amigos postando fotos da intimidade de casais, de quarto do bebê, de horário de entrada e saída do trabalho, de endereço do trabalho, etc, sem a menor cerimônia, como se o mundo inteiro estivesse interessado na vida pessoal do cidadão. Tirando o fato de que alguns deles postam esse tipo de coisa porque confundem as redes com psicólogo 24h (e realmente precisam se tratar com um especialista, pois sofrem de depressão), a maioria das pessoas fala e expõe sua vida pessoal como um hobby. Imagino se não seria a possibilidade real, ou uma tentativa (ainda que inconsciente), de ser o popular "do colégio", de alguns anos atrás. Afinal de contas, agora todos podem dar opinião, e se mostrar atrativos. Viraram revistas ambulantes, vendendo seu produto.
Alguns, no entanto, se mantém no sistema, mas remam contra a maré: estão nas redes, mas não postam. Ou mostram o mínimo possível, provocando a curiosidade, mas se negam a fornecer mais informações ou fotos.
Esses sim, são os que realmente chamam a atenção atualmente. Os que você só descobre alguns anos depois, que "casou, mudou e não te convidou"; que está num emprego ótimo, ganhando "os tubos". E é óbvio, que você descobre isso somente por meios convencionais - NUNCA pelas redes sociais.
Essas pessoas discretas são as diferentes das demais, poucos conseguem ser como elas (não dar satisfação de si a todo instante), e a grande massa da superexposição é que se pergunta sobre esses seres diferentes: como vive, o que faz, porque é feliz? Clamam por fotos, ficam sem resposta reiteradamente, e o mural continua ali: vazio de informações. Fica visível o incômodo causado. Chega a ser cômico. E nesse ritmo, é que estas pessoas se tornam exatamente as "patricinhas pop" da época em que não havia rede social na web, porque só sendo íntimo desse cidadão, é que você saberá dos detalhes.
As relações mudaram, o fluxo de informações mudou, os valores não são os mesmos. A superexposição a que muitos se submetem (ainda que de forma inconsciente) beira a vulgaridade. Enquanto que ser chique, hoje em dia, é ter vida íntima, pessoal, intransferível. É ser o invisível.
Bella.