Jesus teve amigos e não nos deixa sem eles
Uma das coisas que mais me impressionam em Jesus é a Sua humanidade. Ele viveu todos os sentimentos com intensidade e não tinha nenhum temor em expor o que sentia. Um dos trechos do Evangelho que demonstram isso com mais propriedade é justamente a ressurreição de Lázaro. Ali, vemos o Senhor que ama, que se comove, que se perturba e que chora a morte do amigo. O amor de Cristo pelo amigo era tão forte e tão manifestado que todos, os discípulos e os demais judeus, reconheciam. Um amor que não vê limites para ir ao encontro. Nem mesmo o risco de morte foi capaz de impedir que Cristo fosse ao encontro do amigo e, dentre muitas alegações, por causa da ressurreição de Lázaro, os judeus decidiram realmente matá-Lo. A amizade entre eles era testemunho vivo: “Vede como Ele o amava!” (Jo 11, 36).
Muito mais do que amar Lázaro e suas irmãs, Jesus se sentia profundamente amado em Betânia. Lá Ele se sentia em casa, seguro, refugiado e é por isso mesmo que vai àquele pequeno povoado antes de entrar em Jerusalém para cumprir Sua missão. Ele poderia ter ido a Nazaré ver Sua Mãe ou a Cafarnaum à casa de Pedro, mas não, Ele decidiu ir a Betânia para ser amado.
Jesus entende que a missão é muito grande e que precisa de ajuda. Aquele, que é o Amor, agora, precisa ser amado. Aquele, que amou a tantos durante a vida, agora, no momento final, precisa deixar-se ser amado por aqueles que realmente O amam. São os verdadeiros amigos que preparam Jesus para a missão.
Na última noite em Betânia, Maria O unge com um perfume muito caro, declarando que ela O preparou para a morte. Não foi somente com o perfume caro que Ele se viu ungido e preparado para o Seu sacrifício. O que realmente O ungiu e que para Ele era muito mais caro foi o amor de Seus amigos. Se o ato de ungir é capacitar alguém para uma missão, o amor dos irmãos de Betânia capacitou o Senhor. A partir daquele momento, nem a traição de Judas nem o pavor que tomou conta d'Ele no Horto das Oliveiras ou o abandono de todos os Seus discípulos foram capazes de impedir Sua missão.
O Senhor mostrou com a vida o que é uma amizade verdadeira, o que o amor de verdadeiros amigos é capaz de nos fazer suportar. Ele mostrou que por mais que amemos a muitos, precisamos também ser amados, para podermos cumprir a missão que Deus nos confiou. Não há quem ame o suficiente que não precise ser amado. O amor verdadeiro nos capacita para a missão.
O Evangelho sempre nos questiona. As atitudes de Jesus nos levam à reflexão. Talvez você esteja buscando força para continuar em outros lugares e não "na Betânia da sua vida". Talvez esteja buscando em “grandes cidades” o amor que você só vai encontrar nos “pequenos povoados”. Talvez seja a hora de revermos a nossa vida e identificarmos quais são os "Lázaros", as "Martas" e as "Marias" que Deus nos concedeu. Quem são os amigos capazes de nos capacitar para enfrentar a missão? Se olharmos, com atenção, nos “pequenos povoados” de nossa vida, na pequena "Betânia", encontraremos aqueles que verdadeiramente podem nos amar.
Jesus teve amigos e não nos deixa sem eles, pois experimentou como estes são necessários em nossas vidas nos momentos decisivos. Basta que nós os reconheçamos em nossa caminhada e percebamos que dependemos do amor deles para cumprir a missão que Deus nos concedeu.
Deus me deu "Lázaros", "Martas" e "Marias". Não são muitos, mas os poucos que tenho são extremamente necessários para que eu cumpra a missão que Deus me confiou. Aprendi que não basta amar, mas só serei realmente eficaz se me deixar ser amado. Se o Amor precisou ser amado, quem sou eu para insistir em caminhar sozinho.
Renan Félix
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