sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Relato levanta suspeitas sobre morte de general no Haiti

Cristiano Romero | De Brasília
27/01/2011

O presidente da República Dominicana, Leonel Fernandez, levantou a hipótese, durante encontro com autoridades americanas, de o general Urano Teixeira da Matta Bacellar, que comandou as forças de paz das Nações Unidas no Haiti, ter sido assassinado. Fernandez disse não acreditar que o militar brasileiro tenha se matado, conforme concluíram investigação do Exército e laudo feito pelo Instituto Médico Legal (IML) de Brasília.

Bacellar foi encontrado morto na manhã do dia 7 de janeiro de 2006, num quarto do hotel Montana, em Porto Príncipe, capital do Haiti. Apenas quatro dias depois, o IML informou, depois de proceder a uma avaliação preliminar do ferimento encontrado no general, que ele se suicidou.

As afirmações do presidente dominicano constam de telegrama enviado a Washington pela embaixada dos Estados Unidos em Santo Domingo e vazado agora pelo site WikiLeaks. Segundo o documento, obtido pelo Valor, no encontro com o subsecretário assistente de Estado, Patrick Duddy, Fernandez disse que, por razões políticas, o governo Lula tinha interesse em caracterizar a morte do general como um suicídio.

"(...) Ele [Leonel Fernandez] acredita que o governo brasileiro está chamando a morte de suicídio para proteger a missão de críticas internas. Um assassinato confirmado resultaria em clamores da população brasileira pela retirada [das tropas] do Haiti", diz o telegrama. "O sucesso desta missão é vital para o presidente Lula porque é parte do seu plano para obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU."

Fernandez disse que conheceu o general Bacellar pessoalmente e, por isso, o suicídio lhe pareceu "improvável", vindo de um profissional do seu "calibre". Ele revelou que um grupo vinha atuando no Haiti para criar o caos no país e que teria assassinado integrantes da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) - um canadense, um jordaniano e "agora o general brasileiro".

O presidente dominicano contou que um integrante brasileiro da Minustah chegou a matar um atirador haitiano, supostamente integrante desse grupo. Ele lembrou que, ao visitar Porto Príncipe em dezembro de 2005, sua delegação foi atacada por um grupo liderado pelo ativista haitiano Guy Philippe.

O subsecretário Patrick Duddy alegou que as evidências apontavam para o suicídio de Bacellar e que as circunstâncias dos outros assassinatos desmentiam uma conspiração. O presidente insistiu. "Fernandez elaborou um pouco mais a sua hipótese: houve um acobertamento de um assassinato e que mais ataques ocorreriam. Ele foi firme nesta visão e repetiu o aviso", relata o telegrama.

Em outro documento, o então assessor internacional do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, afirmou que mesmo que apenas um brasileiro morresse por violência no Haiti, e não por doença ou acidente, já causaria turbulência no país. Segundo Garcia, "não há escassez de críticos", no Brasil, à missão no país caribenho. A conversa, com diplomatas americanos, ocorreu no dia 8 de junho de 2005, antes, portanto, da morte do general Bacellar.

No mesmo telegrama, o então subsecretário para assuntos políticos do Itamaraty, Antônio Patriota, disse que o retorno de Jean Bertrand Aristide, presidente deposto em 2004, ao Haiti seria ruim para o processo de pacificação do país. Segundo o relato americano, Patriota afirmou que "o mero fato da existência de Aristide será sempre problemático em termos de sua influência" na sociedade haitiana.

Neste momento, Aristide, que vive exilado na África do Sul, tenta voltar ao Haiti, como já conseguiu o ex-ditador Jean Claude Duvalier, o Baby Doc. Patriota contou que obteve do governo sul-africano o compromisso de não permitir que Aristide usasse o exílio para fazer política.

O mesmo telegrama mostra a pressão dos EUA para que as forças de paz lideradas pelo Brasil agissem com maior vigor no combate à violência nas favelas de Porto Príncipe. As autoridades brasileiras reconheceram a crescente da violência, mas não deram ao problema o mesmo grau de urgência.

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