domingo, 13 de maio de 2012

Abolição da Escravidão no Brasil - 124 anos!

Com sua própria voz
Dezembro de 1888
Como a opinião abolicionista em mim ganhou terreno tão depressa? A ideia, já de todo tempo
minha, por si era humanitária, moralizadora, generosa, grande, apoiada pela Igreja, a escravidão em si era um atentado. Os senhores, já por demais tinham gozado (e se eles tivessem que pagar os salários desde o começo?! É verdade que neste caso teriam contado com o que poderiam dispor, e assim não teriam caído tão de supetão. Mas o mal estava feito e não podia deixar de ser cortado, e, além disso, eles deviam ter se preparado ou nunca se preparariam), seus escravos fugiam, não havia meio algum de contê-los, o país agitava-se. Não deveria ponderar tudo isso e com a consciência tranquila enfrentar os desagravados de pequeno número, ou de muitos que ou houvesse? E a indenização? Apesar desse ponto jamais antes de ter sido formulado, e tivesse emitido minha opinião, não poderia admiti-la nem conveniente e nem justa. Primeiro o País não poderia indenizar, senão de uma maneira ilusória. Teria de sair de impostos que recairiam sobre grupos que não tinham nada que ver com isso. O fundo de emancipação, criado a custo de impostos e único para tal fim aplicável, seria mais do que insuficiente e como escolher quem iria socorrer? Além disso, como já disse, a ideia da injustiça da escravidão e do excesso de que os senhores gozaram de seus escravos não podia deixar de atuar no meu espírito.
Meus filhos, se mais tarde lerdes este papel lembre-vos que, se vossa mãe assim procedeu
nesta grande questão da abolição foi na convicção de que seria melhor à pátria, por quem tinha obrigação de velar, e a vocês, a quem deixaria o nome de sua mãe e do trono limpos de qualquer egoísmo ou fraqueza. Deus me ajudou, meus filhos, procedendo inteiramente como minha consciência mandava. Muito e muito pensei e, mais tarde, quando tudo ficou terminado, me espantei com os elogios que faziam da minha coragem, da grandeza...
Procedei sempre como Deus vos ordenar, vossa consciência e espírito ficarão tranquilos, tudo
vos será fácil, e, se assim não for, é que Deus vos julga capazes de lutar e tornar-vos ainda mais
dignos de ganhardes a vida eterna.
Princesa Isabel

(Memorando de dezembro de 1888 – texto adaptado. Citado em BARMAN, J. Roderick. Princesa Isabel do Brasil: gênero e poder no século XIX. São Paulo: UNESP, 2005. p.249-250)

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